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Carlota Joaquina de Bourbon
Carlota Joaquina Teresa Cayetana de Bourbon foi uma infanta da Espanha, rainha consorte de Portugal, Brasil e Algarves e Imperatriz Consorte do Brasil. Primogênita de Carlos IV da Espanha, e da rainha Maria Luísa de Parma, casou-se em maio de 1785, aos dez anos de idade, com o então senhor do infantado e duque de Beja que subiria ao trono em 1816 com o título de D. João VI, numa tentativa de cimentar laços entre as duas coroas ibéricas.
Detestada pela corte portuguesa, onde era chamada de a "louca careca", Carlota Joaquina também ganhou gradualmente a antipatia do povo, que a acusava de promiscuidade e de influenciar o marido a favor dos interesses da coroa espanhola.
Depois da transferência da corte portuguesa para o Brasil, Carlota Joaquina começou a conspirar contra o marido, alegando que o mesmo não tinha capacidade mental para governar Portugal e suas possessões, querendo assim estabelecer uma regência.
Ambiciosa, Carlota também planejava usurpar a coroa espanhola que estava nas mãos de José Bonaparte irmão de Napoleão Bonaparte. Após o casamento em 1817 de seu filho D. Pedro com a arquiduquesa austríaca Leopoldina; e com a posterior volta da família real a Portugal em 1821, Carlota Joaquina foi confinada no Palácio Real de Queluz, onde morreu solitária e abandonada pelos filhos em 7 de janeiro de 1830.
Após sua morte, Carlota Joaquina principalmente no Brasil tornou-se parte da cultura popular e uma figura histórica importante, sendo o assunto de vários livros, filmes e outras mídias. Alguns estudiosos acreditam que ela tenha tido um comportamento rude e superficial, atribuindo-lhe o facto da mesma odiar o Brasil.
Biografia
A infância
ascida em 25 de abril de 1775 no Palácio Real de Aranjuez, Aranjuez, Espanha, Carlota Joaquina era a filha primogênita do rei Carlos IV da Espanha e da rainha Maria Luísa de Parma. Batizada Carlota Joaquina Teresa Cayetana, era tratada apenas por Carlota, nome o qual homenageava seu pai e também seu avô, o rei Carlos III da Espanha de quem Carlota era a neta predileta.
Apesar da rigidez de sua educação e da etiqueta da corte, a infanta foi descrita como travessa e brincalhona. Teve uma educação rígida e profundamente católica, com bases nos campos de estudo da religião, geografia, pintura e equitação esporte predileto de Carlota.
O temperamento fechado e austero da monarquia espanhola impunha à família e à toda corte rígidas normas de comportamento e etiqueta. O rei, Carlos III era um homem de comportamento reservado, que dedicava mais tempo à família do que pelas animações da vida cortesã, que ficavam ao cargo de sua nora, Maria Luísa.
A mãe de Carlota Joaquina logo assumiu a organização dos entretenimentos na corte, com festas luxuosas, onde a moral era facilmente esquecida. Logo, sua imagem estaria ligada à de uma mulher promíscua, que traia o marido com outros homens. Entre eles, possivelmente, estava o primeiro-ministro Manuel de Godoy, cuja suposta ligação amorosa foi bastante explorada pela imprensa da época. Nem mesmo as gestações sucessivas e o nascimento de um herdeiro para o trono em 1784 livraram Maria Luísa do desprezo da população. Ela passaria à história como uma das rainhas mais impopulares da Espanha e sua má fama atingiu inclusive seus filhos, especialmente sua primogênita.
Casamento
Seu aprendizado seria posto à prova quando foi submetida a uma série de exames públicos diante da corte espanhola e dos embaixadores portugueses, enviados em nome da rainha D. Maria I de Portugal para avaliar os dotes da princesa, destinada a casar-se com o infante português D. João de Bragança futuro D. João VI de Portugal.
Em outubro de 1785, a Gazeta de Lisboa publicava um relato dos testes: “Tudo satisfez tão completamente que não se pode expressar a admiração que deve causar uma instrução tão vasta em uma idade tão tenra: mas o decidido talento com que Deus dotou esta sereníssima Senhora, a sua prodigiosa memória, compreensão e desembaraço, mostrarão que tudo é possível, principalmente com o desvelo e capacidade com que o sobredito mestre lhe promove tão úteis e gloriosas aplicações.
Comprovado o talento da noiva, não havia, portanto, qualquer impedimento para o consórcio com o príncipe português, teve seu casamento arranjado, em 8 de maio de 1785 com apenas dez anos de idade. Ela e sua comitiva partiram para Lisboa no dia 11 de maio de 1785.
No dia em que iria a Portugal, Carlota Joaquina pediu à sua mãe para que fizessem uma pintura sua com seu vestido vermelho para colocar na parede, no lugar do quadro da infanta D. Margarida de Habsburgo à qual Carlota dizia superar em beleza.
Viajaram com a infanta o padre Felipe Scio, famoso teólogo espanhol e erudito, D. Emília O’Dempsy, a açafata, e D. Anna Miquelina, criada particular da princesa. As bodas entre D. João e D. Carlota foram oficialmente realizadas no dia 9 de junho. Ela tinha tão somente onze anos, enquanto ele dezoito.
A pouca idade da noiva, por sua vez, era um empecilho para a consumação da união, de modo que a jovem deveria esperar algum tempo para que então se tornasse apta a conceber e gerar filhos.
Vida na corte portuguesa
Não obstante, o clima na corte dos Bragança diferenciava em muitos aspectos do da alegre corte espanhola. Enquanto em outras partes do mundo ocidental representavam o marco de uma nova sociedade baseada nos princípios iluministas, em Portugal a Igreja Católica impõe normas proibindo todo tipo de divertimento.
Eram vetadas a dramatização de comédias, inclusive a realização de bailes e festas. O reinado de D. Maria I de Portugal foi marcado pela ascensão de um grupo conservador da nobreza e do clero de Portugal. Criados no meio desse ambiente de “tédio”, como definiu D. Mariana Vitória de Bourbon tia-avó de Carlota.
Desse modo, a infanta Carlota se viu no meio de um ambiente bastante religioso e austero, em contraste com a extravagância e o fausto a que estava acostumada. Apesar disso, sua relação com a sogra era muito terna, como mostram as cartas trocadas entre ambas. A alegria e a vivacidade de Carlota Joaquina eram as responsáveis pelas raras horas de descontração da rainha.
Seus hábitos e costumes mais liberais diferenciavam em muitos aspectos do de outras mulheres da corte. Bastante tradicionais com relação ao comportamento feminino, os homens portugueses desaprovavam a desenvoltura com que D. Carlota transitava no espaço público, sua atuação no campo político e seu destempero no cotidiano familiar.
Uma vez que a maioria das mulheres portuguesas eram privadas do convívio social, o comportamento transgressor de Carlota Joaquina deu margem para que certos boatos maliciosos a seu respeito fossem levantados pela corte.
Alguns deles chegavam a ser preconceituosos, como o da duquesa de Abrantes, mulher do general francês Junot que mais tarde invadiria Portugal. Durante o período em que esteve em Lisboa, Madame Junot ridicularizava a esposa de D. João tanto por sua maneira de agir quando pela sua forma de se vestir, e a escrachava como uma mulher extremamente feia.
Tramas políticas
Por ser descartada das decisões muitas das vezes, Carlota Joaquina organizou à sua volta um partido com o objetivo de tirar as rédeas do poder ao príncipe regente, prendendo-o e declarando-o incapaz de cuidar dos assuntos do Estado, tal como sua mãe.
Contudo, em 1805 esse partido foi descoberto; o conde de Vila Verde propôs a abertura de um inquérito e a prisão dos implicados, e a princesa só não pagou mais caro porque D. João, desejando evitar um escândalo público, opôs-se à sua prisão, preferindo confinar os movimentos da esposa ao Palácio de Queluz, enquanto ele mesmo ia morar para o Palácio de Mafra, separando-se dela.
Nessa altura os seus inimigos afirmavam que somente cinco dos seus nove filhos incluindo D. Miguel I eram filhos de Dom João VI, já que Carlota Joaquina era uma notória ninfomaníaca.
E deles e dos que estavam contra a política de um monarca forte e com poder de decisão depara-se-nos sobre ela a coisas mais incríveis, numa altura em que "as mulheres não tinham voz, a não ser para urdir surdas intrigas", que hoje está a ser revista que a revelam afinal "uma mulher de elevada cultura política, com rasgos de extraordinária sagacidade, para além de mãe atentíssima, sobretudo no que concerne à saúde de seus filhos, e ainda de filha dedicada, de esposa muitas vezes terna, contra tudo o que dela se propalou".
Contra ela e o Reino de Portugal temos nomeadamente a descrição feita pela mulher do general que comandou a primeira invasão francesa a Portugal, Laura Junot, que afirma: a sua fealdade, seus cabelos sujos e revoltos, seus lábios muito finos e arroxeados adornados por um buço espesso, seus dentes, desiguais como a flauta de Pã".
Chegando ao ponto de escrever que Não podia convencer-me de que ela era uma mulher e, entretanto, sabia de fatos nessa época que provavam fartamente o contrário.
Passava por ser de ânimo perspicaz e de dotes elevados de espírito, porém, as suas qualidades morais não mereceram igual apreço. Ambiciosa, violenta, pretendeu logo dominar a vontade de seu marido, e dirigi-lo nos negócios internos e nos do Estado.
Não se submetendo o regente, começou a olhá-lo com desprezo e desdém, convertendo o lar doméstico em contínua luta, cujos menores incidentes eram discutidos e comentados nas praças públicas.
D. Carlota dispôs as coisas de forma que criou um partido seu, e em 1805 divulgou-se que o regente descobrira uma conspiração tramada contra ele pela esposa. Ela, tendo a seu lado nobres e eclesiásticos, projectava tirar o governo a seu marido, e prendê-lo, declarando-o incapaz de gerir os negócios públicos.
O conde de Vila Verde dispunha-se a abrir uma devassa e castigar os criminosos, porém o regente, para evitar escândalo, não consentiu, limitando-se a separar-se de sua mulher, dando-lhe para residência o Palácio Real de Queluz onde antes viviam juntos, passando ele a residir em Mafra, e a exilar fidalgos que mais se manifestavam afetos à princesa.
A desgraçada situação a que chegou Portugal, em 1807, fez com que os esposos se reunissem por algum tempo, e a esquadra, que em novembro conduziu o Príncipe regente e D. Maria I ao Brasil, levava também a seu bordo a astuciosa princesa.
No Rio continuaram vivendo separados, cada um em seu palácio, reunindo-se apenas quando eram obrigados a comparecer nalguma solenidade pública. Em uma carta, Dom João escreve à irmã que sua esposa Carlota Joaquina teria raspado os cabelos devido a uma infestação de piolhos.
O próprio Octávio Tarquínio de Sousa, em «História dos Fundadores do Império do Brasil», diz que a mulher era quase horrenda, ossuda, com uma espádua acentuadamente mais alta do que a outra, uns olhos miúdos, a pele grossa que as marcas de bexiga ainda faziam mais áspera, o nariz avermelhado.
E pequena quase anã, claudicante uma alma ardente, ambiciosa, inquieta, sulcada de paixões, sem escrúpulos, com os impulsos do sexo alvoroçados.
Projetos no Rio da Prata
E prossegue, adiante: D. Carlota Joaquina é que se não resignava à inação política a que se via condenada, decidida, como estava, a dominar como soberana; e começando a lavrar no Rio da Prata os primeiros sintomas de emancipação, concebeu o projecto de levantar para si um trono nas províncias espanholas da América, ou pelo menos, de governar como regente em nome de seu irmão Fernando VII.
Auxiliada pelo vice-almirante inglês Sydney Smith, e não encontrando oposição do marido, foram enviados agentes ao Rio da Prata, onde formaram um grande partido. As intrigas principiaram então a desenvolver-se mais cruéis e enredadoras.
O ministro inglês, Lorde Strangford, insinuou a D. João que o vice-almirante lhe desonrava o tálamo conjugal. D. João pediu a Londres transferência do vice-almirante. Satisfeito o pedido, Sydney Smith retirou-se, vindo substitui-lo o almirante de Courcy.
No entretanto, as divergências eram enormes. No próprio governo havia correntes muito opostas. D. João, cada vez mais abatido e com medo da mulher, pedia que não a contrariassem sempre que suas exigências não fossem impossíveis de satisfazer.
Anulados afinal os planos da Rainha, nem assim ela esmoreceu. Procurou ser agradável aos castelhanos, e conseguir, na falta de seu pai Carlos IV e de seu irmão, prisioneiros na França, ser nomeada regente da Espanha, e vir talvez a ser a herdeira de Carlos IV, abolindo-se a lei sálica.
Para realizar o projeto, teve de sustentar acesa luta com o embaixador inglês, tendo a astúcia de alcançar que o governo da regência lhe permitisse enviar secretamente ao general Elio, que estava em Montevidéu, víveres e dinheiro, para o que não hesitou em vender as jóias. Afinal, e visto não ser possível narrar detidamente as variadas peripécias desta luta de orgulhos e de ambições, o sonho dissipou-se.
No Rio de Janeiro
Foi durante a estada no Rio de Janeiro, entre os anos de 1808 e 1821, quando D. João VI pôde realmente governar pessoalmente o Império Português, que Carlota Joaquina demonstrou muitas das facetas de sua personalidade. É fato sabido que ela tinha um fetichismo confesso em relação aos sapatos: Assim como alguns contam carneirinhos para dormir, há quem diga que Carlota contava sapatos.
Carneirinhos aparentemente são iguais, sapatos existem tantos quantos propõe o imaginário. Haja tempo para dormir! Carlota tinha, sem exagero, dezenas de pares, onde destacavam-se os vermelhos e os de salto alto.
Homem sábio este, porque, os estudiosos do assunto juram que a cor vermelha é a cor da sedução. Mas, certamente não levou isto tão a sério, já que os mesmos estudiosos ainda nos lembram que o vermelho é também a cor do poder e da dominação.
Carlota com seu instinto aguçado aprendeu desde menina que os sapatos de salto alto e ainda vermelhos, eram muito poderosos. Como a cor possui uma intensa força de comunicação, a vaidosa Carlota preferia os vermelhos acima de qualquer outra cor e os usava - altos - impedindo que alguém esquecesse quem ela era. Como se fosse possível.
Então, o vermelho da Imperatriz do Brasil evidencia sua posição, comanda atitudes, ordena aos que a rodeiam. Segundo os especialistas ainda, o vermelho também é uma cor erótica e, talvez seja a mensagem de cor mais direta que se pode enviar, paixão e poder são claramente comunicados.
Viajantes, surpreendiam-se com a quantidade de sapatarias existentes no Rio de Janeiro - capital do Império Português na América - repletas de trabalhadores nesta cidade onde, de cada seis habitantes, cinco andavam descalços.
Mais ainda, ao observarem que as senhoras brasileiras, usavam sapatos de seda para andar em qualquer tempo nas calçadas de pedras desniveladas e mal cuidadas, esgarçando em pouco tempo o delicado tecido do calçado.
Não esquecendo que naquele momento, também este tecido era tido como erótico conseqüentemente, os sapatos confeccionados com ele, representavam peças insinuantes.
Assim, as senhoras também tinham objetos que por elas falavam. Apesar dos extremos das cores, as senhoras da Corte tinham sua munição e com ela comunicavam suas intenções, esperado serem admiradas como mulheres desejáveis, sem apelos diretos, que podiam estar sendo compreendidos como ameaçadores à sua posição de “senhora” numa sociedade patriarcal como da época, bem como de enfrentamento à Carlota.
Viveu alguns anos afastada da política, sempre separada de seu marido, que então já havia sido aclamado Rei, por ter falecido D. Maria I em 1816, até que a Revolução do Porto em 1820, que trouxe para a Europa a família real, pôs novamente em evidência a rainha, reunindo algum tempo os esposos.
Retorno a Portugal, conspirações e morte
Aliada aos frades, aos nobres, aos que se mostravam pouco simpáticos ao novo regime, urdia a conspiração chamada da rua Formosa, destinada a obrigar o rei a abdicar e a destruir a Constituição.
Falhando esse plano, as cortes de 15 de maio de 1822 decidiram deportar a rainha para o Palácio do Ramalhão, em Sintra, por ela se recusar a jurar a Constituição, alvitre que ela aceitou com júbilo, pois lhe permitia continuar a sua obra perturbadora.
Opondo-se abertamente à Revolução liberal do Porto, de 24 de agosto de 1820, foi a figura mais notável do País a recusar-se a jurar a Constituição de 1822, juntamente com o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Carlos da Cunha e Menezes.
Neste retiro do Ramalhão tramou ainda a queda da Constituição; e servindo-se de D. Miguel, que ela educara, e com quem vivia intimamente, conseguiu realizar o movimento conhecido por Vilafrancada em 26 de maio.
Derrubada a Constituição e dissolvidas as cortes, foi levantado o desterro da rainha, e D. João VI a foi buscar à quinta do Ramalhão, conduzindo-a ao paço da Bemposta.
Pouco tempo, porém, durou a harmonia entre os esposos, porque a rainha mudou a sua residência para Queluz, e tornou-se cabeça do partido absolutista que dentro em pouco promoveu a Abrilada em 30 de abril de 1824.
Tendo a rainha tomado parte manifesta no movimento, quando D. João VI, apoiado nos embaixadores francês e inglês, se decidiu a mandar sair do reino D. Miguel, ordenou que sua mulher se recolhesse ao paço de Queluz, e nunca mais aparecesse na corte.
Em consequência desse ato, que a promoveu a figura de proa do partido reaccionário, a rainha foi exilada para Queluz, vivendo uma vez mais separada do rei que vivia no Palácio da Bemposta, em Lisboa, onde continuou a exercer intensa atividade política, promovendo várias conspirações para derrubar D. João VI e suspender a constituição.
O seu Palácio ou quinta do Ramalhão tornou-se o principal foco da intriga absolutista, e à rainha é imputada enorme responsabilidade nos projectos dos principais levantamentos reaccionários dos anos 1820 a Vilafrancada, de 1823, e a Abrilada, de 1824, que procuraram abolir o constitucionalismo, afastar D. João VI do governo e colocar no trono infante D. Miguel, seu filho direto, a quem ela educara.
Após a Vilafrancada, o rei acabou por suspender a constituição, prometendo não obstante para breve a convocação de novas eleições, a fim de se redigir um novo texto constitucional. Foi então buscar a esposa no retiro e durante alguns meses, reinou a harmonia entre os dois.
Pouco tempo depois, esta harmonia desfez-se, após o golpe da Abrilada, em que o infante D. Miguel tentou apossar-se do trono, com o auxílio de sua mãe, a verdadeira cabeça do partido absolutista em Portugal. Com o apoio dos embaixadores francês e inglês, D. João retirou-se para um vaso de guerra estacionado no Tejo, exonerou D. Miguel do cargo de generalíssimo do exército e ordenou-lhe o exílio; quanto à sua esposa, decretou que fosse desterrada para sempre para Queluz, nunca mais devendo aparecer na corte.
Sentindo a morte próxima talvez porque fosse lentamente envenenado, D. João VI nomeou um conselho de regência para lhe suceder após a morte, o qual devia escolher o herdeiro do trono português e ao qual presidia a sua filha Isabel Maria de Bragança retirava desta forma à sua mulher uma prerrogativa que desde sempre na história portuguesa havia cabido à rainha-viúva: o exercício da regência do reino durante a menoridade ou ausência do herdeiro no país.
O documento que estabeleceu o conselho regencial tem sua veracidade hoje contestada, pois o rei segundo afirmam os médicos e estudiosos atuais que analisaram as suas vísceras, enterradas em um jarro de porcelana chinesa sob uma laje, na capela dos Meninos de Palhavã, no Mosteiro de São Vicente de Fora, e a grafologia da sua assinatura já se encontrava, alegam, morto à sua data.
A 10 de março de 1826 faleceu, no Palácio da Bemposta, D. João VI, tendo previamente nomeado regência presidida por sua filha, a infanta D. Isabel Maria, e composta do cardeal patriarca, Duque de Cadaval, Marquês de Valada, Conde dos Arcos e os seus ministros de Estado.
Instituíra uma ordem exclusivamente destinada às senhoras, com a autorização do príncipe regente, seu marido, por decreto de 4 de novembro de 1801, com a designação de Ordem das Damas Nobres de Santa Isabel, cujos estatutos foram confirmados pelo alvará de 25 de abril de 1804.
Durante o governo de D. Miguel, que ascendeu ao trono em 1828, não viria a ter papel relevante na governação daquele que fora, para muitos, o seu filho predilecto, pois faleceu ou suicidou-se em 1830 em Queluz.
De resto, o próprio príncipe não a mandou chamar do desterro assim que subiu ao trono, pelo que faleceu só, esquecida, triste e amargurada. Segundo alguns historiadores, este facto é um dos vários indicadores de que teria existido um afastamento gradual entre mãe e filho nos últimos anos de vida daquela.
Jaz no Panteão Real da Dinastia de Bragança, ao lado do seu desavindo marido, no Mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.
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